Resumo comentado: nove mitos sobre o trabalho #8
Olá!
Este texto faz parte de uma série. Você encontra os textos anteriores nos links abaixo:
Mito #1: Pessoas se importam com a empresa onde trabalham.
Mito #2: O melhor plano sempre vence
Mito #3: As melhores empresas estabelecem metas em cascata
Mito #4: Os funcionários mais completos são os melhores
Mito #5: As pessoas precisam de feedback
Mito #6: As pessoas são boas em avaliar as outras
Mito #7: As pessoas tem potencial
Mito #8: Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é fundamental
Esse capítulo começa dizendo que trabalhar não é fácil, pois é uma jornada repleta de obstáculos que vão desde o estresse diário até as longas jornadas de deslocamento. Além disso, existem muitos outros pequenos problemas que as pessoas enfrentam e que as fazem questionar:
Será que a vida dos outros profissionais não é melhor que a minha?
A obra explora a vida de médicos nos EUA, mais especificamente.
Contudo, ao explorar a realidade dessa profissão, o livro argumenta usando dados estadunidenses que a vida desses profissionais não é tão glamorosa, com altos índices de estresse e medo de perder a licença por algum erro médico. O cenário só é pior para socorristas e enfermeiros, onde as altas taxas de burnout são ainda maiores. Então, na prática, mesmo profissões tidas como incríveis para quem olha de fora, têm lá seus problemas.
Partindo desse exemplo, o senso comum conclui: trabalhar é ruim e a vida é que é boa.
Buscamos ao máximo equilibrar ambos os aspectos o tempo todo, tentando chegar a um meio-termo. Ou seja, em um dia comum de trabalho “gastamos vida” trabalhando e tentamos recuperar essa vida depois, fazendo outras coisas. No entanto, essa busca muitas vezes se revela mais como um estorvo do que um benefício. É gasto muita energia tentando fazer isso e simplesmente não funciona.
O livro argumento um ponto interessante: chega a ser idealista tentar encontrar esse equilíbrio. Se você duvida disso, pergunte-se:
Quantas pessoas você conhece, sejam ricas ou não, que de fato encontraram um equilíbrio ideal?
Eu imagino que bem poucas, ou talvez para alguns de vocês que estão lendo isso, nunca viram nenhuma.
O livro propõe uma abordagem deveras pragmática: em vez de tentar equilibrar vida e trabalho, é mais simples aceitar que você terá que trabalhar e não há como fugir disso. Logo, o ápice do pragmatismo reside no amor pelo que se faz. Assim, a busca deve ser tornar esse processo de trabalho o mais satisfatório possível. Pois, dado que trabalhar é uma das únicas certezas no mundo em que vivemos, a única maneira de evitar o sofrimento é amar profundamente o trabalho.
Só um comentário meu: amar o que se faz é diferente de amar a empresa e enxergar uma relação comercial como uma família ou algo similar. Portanto, seja profissional e encontre satisfação no que você faz, mas nunca se esqueça que estamos lidando com empresas, que são entidades que não possuem empatia, portanto, tenha expectativas realistas.
O conceito usado para explanar essa ideia de amor no que se faz é a Eudaimonia, que é uma visão dos antigos gregos de que o nosso dever é buscar uma realização plena. Ela faz parte da corrente de pensamento Estoicismo, que provavelmente você já ouviu falar por aí na internet.
Um exemplo real mencionado no livro de alguém que ama seu trabalho é de um médico anestesista inglês, que encontra prazer e se sente revigorado em situações estressantes (como manter um paciente sedado, controlando a anestesia de forma precisa durante um procedimento cirúrgico).
Essa situação, muitos médicos classificaram como estressante. Porém, para o sujeito mencionado é revigorante, o que o faz amar aquela parte do trabalho. Paradoxalmente, ir até o paciente depois da cirurgia para fazer acompanhamento deixa o mesmo sujeito bastante irritado (o que é uma tarefa tipicamente satisfatória para outros médicos, de acordo com os dados obtidos pelos autores na mesma pesquisa com médicos estadunidenses).
Essa perspectiva se estende ao ambiente corporativo. A produtividade real emerge quando os colaboradores encontram o amor pelo que fazem. Isso gera criatividade, um bom clima, enfim… o trabalho simplesmente flui. Nesse sentido, a recomendação para gestores é incentivar que as pessoas incorporem de maneira sustentável e intencional o amor no trabalho (além de ajudar os liderados a encontrar o caminho para tal de uma forma respeitosa, obviamente).
Um exercício prático proposto pela obra sugere que, durante uma semana comum de trabalho, você preencha duas colunas: “amei” e “odiei”, de acordo com as tarefas realizadas. O líder não é um bom juiz nesse processo (vide mito #6), portanto, a avaliação deve ser pessoal. O que te energiza vai para a coluna “amei”, o que te drena, para a coluna “odiei”.
Um ponto que é importante mencionar: seus colegas podem não compartilhar as mesmas reações às situações, mesmo desempenhando funções semelhantes, portanto, o que irá entrar na sua coluna “amei” será bem diferente dos seus pares e está tudo bem.
O capítulo termina com uma recomendação simples: maximize a quantidade de tarefas que você ama e minimize as que você odeia.
Esse é o caminho proposto pelos autores para encontrar amor no que se faz. Eu aposto que agora você está pensando: pô, mas nem todo mundo consegue escolher trabalhar com o que gosta e similares, no Brasil é difícil e desigual e tem gente que não tem escolha nesse tipo de coisa.
Eu concordo. Eu também não acredito em meritocracia. Porém, eu cito o brabo:
Irmão, você não percebeu
Que você é o único representante
Do seu sonho na face da terra
Se isso não fizer você correr, chapa
Eu não sei o que vai
Emicida - Levanta e Anda
E eu tenho certeza que o Emicida também não acredita em meritocracia, álias. Mas isso não te impede de lutar pelo seu e tentar melhorar a sua vida, ainda que pouco a pouco.
Você já se deparou com pessoas que parecem odiar tudo e nada está bom? Que odeiam seu trabalho, cônjuge e tudo mais e acabam descontando sua frustração nos colegas de trabalho, por exemplo?
Manda esse texto para elas, talvez com esse método elas consigam usar esse exercício das duas colunas para encontrar auto responsabilização e o que amam. Talvez a vida delas fique um pouco melhor ao fazer isso, vai saber.
Muito provavelmente, nem eu nem você somos predestinados a algo. Ninguém é especial, na prática. Porém, eu ainda acredito que a cada um cabe a responsabilidade de encontrar o seu propósito de alguma forma, com o intuito de tentar fazer a sua vida um pouco menos pior. Se você conseguir fazer isso sem prejudicar outras pessoas no processo, já está excelente.
Qual não foi minha surpresa ao enxergar um paralelo dessa busca pelo amor no trabalho com um texto antigo meu aqui, onde menciono o Ikigai, que destaca a interseção entre paixão, vocação, profissão e missão como a chave para uma vida significativa:
Recomendo que você pesquise um pouco sobre esse conceito, pode te ajudar a direcionar sua busca por realização na vida.
Por fim, o livro propõe a seguinte verdade para substituir o mito: o amor no trabalho é fundamental (porque é para isso que o trabalho realmente serve).
Espero que o texto tenha sido útil para você de alguma forma.
Até!
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