Uma reflexão sobre prioridades

Adriano Croco
6 min readApr 2, 2024

Olá!

Uma das coisas mais desafiadoras na vida e na carreira, de maneira geral, é definir o que fazer e decidir quais são as prioridades.

No texto de hoje, gostaria de explorar essa ideia um pouco melhor.

Tudo que é importante temos que fazer primeiro?

Acho que a discussão se baseia basicamente em dois conceitos: o que é importante e o que é prioritário. O primeiro é aquilo que tem mais valor em comparação à outras coisas e o segundo é o que deve ser feito primeiro. Afinal, nem tudo que é importante precisa ser feito com urgência.

Lembrando que o conceito de valor é subjetivo e varia de contexto para contexto. Em empresas, pode ser lucro, mas muitas vezes pode ser reputação, awareness ou qualquer outra métrica que faça sentido aumentar.

O principal ponto de atenção é que nem sempre o que você considera valioso é realmente importante para os outros e vice-versa.

Uma pequena anedota sobre o conceito de Daily

Um ponto simples que me fez refletir bastante foi minha experiência com essa prática do Scrum. De cerca de 2015 até meados de 2020 (ou seja, no período pré-inverno das startups), houve um aumento no uso de metodologias ágeis no mercado de tecnologia que acompanhei de perto.

Durante essa época, a recomendação do que fazer na daily, vinda dos próprios autores do Scrum, era que os membros da Squad respondessem o seguinte: o que você fez ontem, o que vai fazer hoje e se tinha algum impedimento (ou seja, algum bloqueio externo que deveria ser removido para o andamento da execução da atividade).

Porém, por volta de 2021 o próprio Scrum Guide mudou a abordagem. Agora, em vez dessas três perguntas, a sugestão foi substituí-la por algo mais direto: a pergunta se tornou se você está trabalhando na prioridade (Sprint Goal) do time e se tem algum impedimento.

Quando soube disso, testei no meu próprio time para colocar essa nova ideia à prova. Propus que, em vez de rodarmos essa dinâmica mais antiga, mudássemos a forma como conduzimos nossas conversas.

O resultado foi ótimo, melhorou bastante a percepção sobre algumas prioridades e o foco do time de uma maneira geral.

Hoje, eu conduzo a daily assim: está claro para todos as nossas prioridades no momento? Vocês estão trabalhando nelas? Algum bloqueio?

E só. Qualquer coisa além disso já sinto que é microgerenciamento.

Porém, independentemente dos resultados que obtive no trabalho (e não me levem a mal, não me importo tanto assim com o Scrum Guide a ponto de segui-lo ao pé da letra, pois eu acho esse material muito melhor), a reflexão que surgiu disso é o que realmente valeu para mim.

Hoje, me faço a mesma pergunta várias vezes ao dia: estou alocando energia no que deveria?

Fazer essa pergunta me ajudou a reduzir um pouco a ansiedade e o desejo de querer fazer mil coisas ao mesmo tempo. Afinal, quando tudo parece perdido, pare, respire e pense: estou fazendo o que é mais importante nesse momento?

Isso serve para a empresa e fora dela. Perguntas como: estou fazendo o que é mais importante para minha família? Cônjuge? Satisfação pessoal? Saúde mental e física? Enfim, a lista do que pode ser importante é realmente abrangente.

Aqui entra a grande questão (afinal, este texto existe por um motivo): como saber o que é realmente prioritário? Ou seja, além de importante, o que deve ser feito antes de outras coisas?

Para ilustrar, tem uma frase muito legal do Peter Drucker que eu gosto bastante:

O óbvio também precisa ser dito

Se conselho fosse bom, seria pago, mas, nesse caso, eu só posso sugerir algumas poucas coisas para fazer você refletir.

Primeiro de tudo, encontre o que é realmente importante para você.

Nesse ponto, você pode cair em uma armadilha em que já vi várias pessoas caírem: o que é importante para você, não necessariamente é importante para quem está ao seu redor (ou para quem paga o seu salário).

O projeto em que você está trabalhando pode não ter valor algum perante as prioridades atuais da alta gestão e você nem vai saber disso se continuar trabalhando apenas no que está à sua frente. Portanto, ouça o que está ocorrendo ao redor. Se ainda não ficou claro, pergunte.

Não fomos nem eu nem você que fizemos as regras do mundo corporativo, então quem decide em uma empresa o que é importante é a alta gestão e você provavelmente não irá mudar isso. Portanto, se você não concorda com a decisão dessas pessoas, ao meu ver, você tem três opções: sofrer por não concordar, trocar de empresa ou você mesmo(a) virar C-Level e tomar esse tipo de decisão.

Dado que você não conseguirá mudar as prioridades de uma empresa, o desafio se torna, então, encontrar o que é importante para você como pessoa.

Se é sua família, rejeite vagas presenciais o quanto puder, para que possa passar mais tempo com eles.

Se é ter a possibilidade de escolher trabalho, tenha uma reserva de emergência e comece reduzindo gastos para conseguir poupar mais.

Se é se aposentar relativamente jovem, talvez você tenha que empreender.

Você está disposto(a) a tudo isso?

Pela minha experiência, a maioria das pessoas quer querer.

Explico.

Eu testemunhei esse comportamento inúmeras vezes no tempo que dedico para as mentorias gratuitas. Eu vi muita gente querendo ganhar bem em tecnologia mas sem amor pela profissão. Quando eu falo o que é necessário para crescer na área, a pessoa não volta.

Mas quem realmente gosta do que faz, é impressionante o quanto prospera rápido. Inusitado? não acho.

Aliás, recentemente me deparei com uma visão interessante sobre gostar do que se faz, caso você tenha interesse, esse texto explana melhor minhas considerações sobre isso.

Resumindo: foque no que é importante para você e faça disso uma prioridade. No caso da empresa, siga o direcionamento de cima.

O próximo ponto se aplica mais se você é gestor(a) de pessoas:

O que é importante para os seus liderados?

Eu já comentei sobre o que eu acho que alguém que gere pessoas deveria se preocupar aqui, se você tiver interesse.

Mas só trazendo o argumento resumido para cá: importe-se com os seus liderados a ponto de saber o que é importante para eles e trabalhe na medida de suas possibilidades para ajudá-los a atingir isso. Se você não se importa com pessoas para fazer esse mínimo, você é um líder ruim.

Se você tem algum liderado que não quer assumir uma posição de liderança, você tem que respeitar a escolha da pessoa e procurar formas dela continuar crescendo na carreira sem forçar uma cadeira de gestão. Forçar isso é uma violência contra a pessoa que gera o ciclo vicioso dos líderes de tecnologia ruins.

Já é dificil o suficiente quando a pessoa quer ser gestor, imagina quando alguém que não leva jeito é jogado em uma posição dessa sem preparo?

Depois de descobrir o que é importante para si e para as outras pessoas ao redor, o resto é simples:

Ganbatte Kudasai :)

Repita. E Repita. E Repita.

No dia em que você estiver cansado(a) e pensando em desistir, sinta o cansaço e o desânimo. Tá tudo bem. Sinta o que tiver que sentir.

Aí você muda a abordagem, repensa se algo é realmente importante… e tenta novamente. E denovo.

Afinal, você é o único representante dos seus sonhos na face da terra, como disse o poeta.

Para você que me lê, talvez eu não te conheça, mas, saiba eu estou torcendo para que o seu processo de descoberta seja o mais legal possível. Afinal, torcer para outras pessoas é importante para mim.

Até!

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