Uma sugestão de classificação de estilos de liderança
Olá!
O objetivo deste texto é bastante simples: para mim, estamos enfrentando uma crise de líderes. Na área de tecnologia, a situação é ainda pior. Por esse motivo, vou tentar apresentar algumas ideias sobre por que acredito que isso esteja acontecendo e como você — seja um aspirante a líder ou não — pode lidar melhor com essa situação.
Quando me refiro à crise de líderes, gostaria de fornecer um pouco mais de embasamento com dados. Dê uma olhada neste gráfico, que resume o engajamento das pessoas globalmente, conforme apontado pela Gallup:
É desse tipo de dado que surgem termos como quiet quitting e similares.
Eu já me deparei com muitas definições diferentes de liderança. Um detalhe que observei é que, dependendo da linha de pensamento do autor da definição, geralmente ocorrem algumas variações nos termos utilizados.
Para organizar melhor meus pensamentos, comecei pesquisando os diferentes tipos de liderança documentados. Para facilitar minha busca, utilizei a IA. Ao pesquisar pelos seguintes termos: “lista completa de todos os estilos de liderança documentados”, o ChatGPT retornou 40 estilos diferentes e ainda mencionou que não se trata de uma lista completa. Abaixo estão os resultados listados, caso você tenha curiosidade:
Liderança Autocrática
Liderança Transformacional
Liderança Servidora
Liderança Democrática
Liderança Laissez-Faire
Liderança Transacional
Liderança Carismática
Liderança Situacional
Liderança Burocrática
Liderança de Coaching
Liderança Visionária
Liderança Autêntica
Liderança Pacesetting
Liderança Orientada para Tarefas
Liderança Orientada para Relacionamentos
Liderança Adaptativa
Liderança Participativa
Liderança Estratégica
Liderança Silenciosa
Liderança Orientada para Objetivos
Liderança Caridosa
Liderança Transformadora
Liderança Conectiva
Liderança Inspiradora
Liderança Caráter-Centrada
Liderança de Resiliência
Liderança Orientada para Resultados
Liderança Orientada para a Missão
Liderança Sistêmica
Liderança Colaborativa
Liderança Inovadora
Liderança de Equipe
Liderança Instrucional
Liderança Democrática Participativa
Liderança Facilitadora
Liderança Compartilhada
Liderança de Equilíbrio
Liderança Inspirada por Valores
Liderança de Inclusão
Liderança Adaptável
Ao saber disso, esse artigo ficou congelado por vários meses, na gaveta das pautas interessantes, porém, difíceis de sintetizar. Eu poderia escrever um artigo para cada estilo, por exemplo. Porém, eu me recuso a complicar ainda mais um assunto que já é pouco compreendido. Só um detalhe: boa parte dos estilos se confundem com descrições de comportamento (ex: liderança orientada para resultados ou missão) e outras só são alucinações do modelo mesmo (liderança de equilíbrio e liderança de equipe são termos horríveis de tão genéricos). Como o ChatGPT não cita fontes, voltei a estaca zero.
Como forma de ajudar a clarificar esse excesso de possibilidades, eu pensei em classificar os estilos de liderança usando materiais já validados por outras pessoas, de preferência, com validade científica. Eu encontrei um artigo (fonte) no qual se discute o que de fato é um comportamento destrutivo dentro das organizações, com definições claras e objetivas.
No entanto, o que sintetiza toda essa discussão e o que gostaria de abordar aqui é um modelo de análise proposto no mencionado artigo, que classifica os líderes como pró-organização vs. anti-organização e pró-subordinado vs. anti-subordinado.
Pensando bem, essa dicotomia faz muito sentido e explica muita coisa. Caso você saiba de algum outro modelo (com base científica) para analisar estilos de liderança, me mande uma mensagem, adoraria discutir mais sobre. Para fins deste artigo, irei seguir com a melhor evidência que encontrei até o momento.
A imagem que representa o modelo mencionado é a seguinte:
Segundo esse modelo, um líder pode ser classificado como construtivo (constructive) caso seja pró-organização e pró-subordinado, tirânico (tyrannical) se for pró-organização e anti-subordinado, apoiador-desleal (supportive-disloyal) se for anti-organização e pró-subordinado, e descontrolado (derailed) se for contrário a ambos.
Um dia, o capitalismo deixará de existir como sistema econômico vigente e o conceito de empresa deixará de fazer sentido. Ainda sim, haverá necessidade de líderes para auxiliar organizações (no sentido de agrupamento de humanos) a realizar algo. Logo, mesmo no fim dos tempos, o comportamento de um líder poderá ser classificado como destrutivo ou construtivo. Partindo dessa premissa, seguirei adiante.
Com isso em mente, eu classifiquei todos os principais estilos de liderança que eu já me deparei ao menos uma vez na minha carreira, usando a matriz mencionada. Eu realmente não encontrei um consenso em nenhuma das pesquisas que eu fiz sobre a nomeclatura dos estilos, então, eu vou de empirismo mesmo.
O resultado é a imagem abaixo:
Agora vamos a explicação dos motivos.
Quadrante apoiador-desleal: nunca vi um líder que ficasse do lado dos subordinados e contra a empresa. Se isso acontecer, ele(a) não dura muito tempo no cargo. O motivo que explica essa expulsão natural do cargo, ao meu ver, explica-se pela teoria do agente. Resumindo essa dinâmica, a empresa geralmente delega a busca por seus interesses aos seus líderes. Ao identificar que um líder está agindo contrariamente ao empregador, a empresa aciona mecanismos de emergência para preservar a si mesma, e essa pessoa é expelida da organização. Portanto, não há nenhum estilo que possa ser facilmente enquadrado aqui.
Quadrante destrutivo: a liderança egoísta está descrita aqui. Apesar de parecer pró-organização em alguns cenários, uma pessoa assim no final só está interessada em si mesma. Com essa mentalidade, é impossível ajudar alguém a crescer genuinamente. Meu argumento para isso está melhor explicado aqui. O líder Laissez-Faire (o termo vem do francês, significa algo como deixe fazer) é aquele líder tão distante que não faz nada de bom, nem pelos liderados e nem pela empresa. Devido a essa postura de não intervenção, que mais atrapalha do que ajuda, considero esse comportamento como destrutivo. Afinal, se você é pago para fazer algo e não o faz, você se torna parte do problema.
Quadrante tirânico: nesse quadrante, encontramos líderes autocráticos (aqueles que impõem suas ordens sem questionar), burocráticos (que se escondem por trás dos processos), transacionais (que punem aqueles que erram e recompensam cegamente aqueles que acertam) e transformacionais (que tentam engajar por meio do exemplo pessoal para promover mudanças). Em todos esses casos, nenhum desses estilos se preocupa em consultar a equipe sobre suas opiniões em relação a mudanças. Entendo que em situações de crise é muito tentador deixar de ouvir as pessoas em prol de uma suposta agilidade na tomada de decisão. No entanto, ninguém possui a verdade absoluta e temos muitos vieses cognitivos que podem atrapalhar nossas decisões, tema que exploro com mais detalhes aqui. Portanto, aqueles que não ouvem seus liderados não podem ser considerados pró-subordinados.
Quadrante construtivo: aqui, encontramos líderes democráticos (que ouvem as pessoas antes de decidir), situacionais (adaptam o estilo de comunicação e cobrança de acordo com o nível de senioridade da pessoa), servidores (priorizando servir à equipe para alcançar resultados) ou de coaching (auxiliando os liderados a se desenvolverem por meio de um método definido). Independentemente do método utilizado, esses estilos levam em consideração quem é mais importante na equação: os liderados. Na minha visão, não é possível ser um bom líder sem se importar genuinamente com as pessoas. Esses estilos, por essa razão, são muito melhores do que os discutidos anteriormente.
Obrigado por ter me lido até aqui.
Até a próxima!
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