Sobre vieses cognitivos e diversidade

Adriano Croco
5 min readOct 7, 2022

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Olá!

Hoje eu gostaria de comentar um pouco sobre o tema diversidade e tentar abordar alguns argumentos comuns a partir de uma perspectiva de vieses cognitivos.

Você já deve ter ouvido por aí que o tema Diversidade e Inclusão (também chamado pela sigla D&I) talvez tenha ido longe demais ao incluir grupos historicamente sub-representados (como mulheres, pessoas pretas e LGBTQIA+) no mercado de trabalho com ações afirmativas.

Se você pensa que atualmente tudo é racismo, machismo ou homofobia, e que antigamente não era assim, eu gostaria de falar com você.

Vamos partir da seguinte premissa: Todo mundo tem preconceitos. Quando falo o mundo, eu to dizendo que em alguns casos, é o mundo todo mesmo. Mas antes disso, eu gostaria de propor uma pequena alteração no vocabulário, para melhor acompanhamento do texto. Ao invés de preconceito, a partir de agora, vou chamar de viés cognitivo.

Se você acha que isso é algo irrelevante, gostaria que desse uma boa olhada na imagem abaixo, que cataloga cinquenta pontos cegos cognitivos que temos. Dado o número, é possível inferir que é algo que é mais complicado do que parece ser a primeira vista:

50 tipos de vieses cognitivos

Você já conheceu alguém que sabe pouquíssimo de um assunto, mas não vê falhas na própria competência, a ponto de nem saber o que não se sabe? Efeito Dunning-Kruger. Tem uma visão positiva de alguém e consequentemente acha que tudo que ela faz é bom? Efeito Halo (o mesmo serve para quem você não gosta). Acha que uma ideia é boa só porque tem um número grande de pessoas que aderiu a uma ideia? Efeito Manada. Julga as pessoas que erraram como se fosse um caso de simples falta de caráter ao invés de levar em consideração o contexto e julga a si mesmo somente com base nas circunstâncias? Erro fundamental de atribuição e um pouco de viés auto-servidor (ou também conhecido como Egotismo).

Só com esses cinco vieses, dá para explicar alguns fenômenos comuns: Aquela pessoa que nem sabe o quão incompetente é em um determinado assunto e profere muitas certezas erradas (Dunning-Kruger), o viés do seu gestor ao promover só quem ele gosta (Efeito Halo), o Nazismo ser uma ideia execrável que teve milhões de adeptos (Efeito Manada) e a Meritocracia, que culpa as pessoas pela própria pobreza e falta de sucesso, dado que o problema é estrutural (Erro fundamental de atribuição com uma pitada bem grande de Egotismo).

Se você se interessou, recomendo que dê uma olhada na imagem novamente, o viés explica desde o efeito Placebo (ou seja, funciona porque eu acredito que funciona), até porque ninguém faz nada ao ver pessoas precisando de ajuda na rua, o famoso tem muita gente aqui, logo, alguém viu isso e irá ajudar, não é problema meu (efeito do espectador).

O meu convite é hoje é para tentar encontrar quais são os seus. Para descobrir isso, existe esse teste aqui da Universidade de Harvard, que permite avaliar o seus vieses cognitivos em relação a alguns grupos específicos. Apesar de não contemplar todos os vieses possíveis no teste, ao menos é um bom ponto de partida.

Gostaria muito que você que está lendo esse texto fizesse o teste em pelo menos duas categorias antes de continuar. Se você é gestor(a) de pessoas, sugiro que faça o de todas as categorias, dado que o seu impacto na vida das pessoas é maior, por definição. Afinal, você não gostaria de ser leviano(a) e deixar de contratar alguém simplesmente porque não gosta da cor de pele, gênero, religião ou algo parecido do candidato(a).

O que tomar uma decisão enviesada dessa falaria de você como gestor(a), não é mesmo?

Principalmente porque todo mundo tem pontos cegos, um viés comum, inclusive, é achar que não tem vieses (viés do ponto cego). Então você tem sim. Se você acha que não, convido você a fazer os testes e provar que eu estou errado.

Você não precisa me contar qual foi o resultado, mas você precisa refletir a respeito. Dado que todos temos pontos cegos cognitivos, o melhor que temos a fazer é combater os nossos.

Dado que você fez os testes, o que isso diz sobre você? Será que você é mesmo tão neutro(a) quanto gosta de pensar que é? Será que você não está sendo enviesado(a) ao preferir alguns perfis em detrimentos de outros?

Por definição, eu não consigo entender de forma realmente profunda (afinal, a empatia tem limites) o que uma pessoa que tenha a cor de pele ou o gênero diferente do meu passa ao lidar com um mercado de trabalho preconceituoso que a julga com base nas aparências e as impedem de se desenvolver como profissionais.

Ao mesmo tempo, eu ainda não tenho uma determinada idade, mas parece ser questão de tempo até eu chegar na idade em que serei julgado com base na quantidade de verões vividos. Dado isso, porque algumas pessoas acham que podem excluir pessoas mais velhas de processos seletivos com base em achismos ridículos como: A pessoa é devagar, não tecnológica ou similares?

Se você está começando sua carreira agora, não ache que só porque você digita mais rápido, sabe o que é cringe ou usa o TitTok, você é melhor que quem é um pouco mais velho que você.

Ao alimentar esses tipos de preconceitos, a pessoa recrutadora acaba indo com uma opinião pré-definida que gera aquelas entrevistas em que a pessoa já tem uma visão definida sobre você e praticamente se torna uma batalha perdida, em que você já perdeu logo ao entrar na sala. Pergunte a qualquer pessoa que está em alguns dos grupos historicamente sub-representados que eu mencionei, ela provavelmente já passou por isso. Esse viés de tentar confirmar o que eu já acho também tem um nome. Além de excluir pessoas perfeitamente capazes, é capaz de atrapalhar decisões de negócio.

Se você não se sensibilizou pelo argumento ético da coisa, saiba que incluir o diferente dá mais dinheiro. Agora se nem assim você consegue aceitar o diferente, afirmo que o problema é você mesmo. Não há nenhum problema em ser diferente, nunca foi e nunca será.

Olhando desse perspectiva, quantas experiências enriquecedoras você está perdendo simplesmente por não querer que pessoas diferentes participem da sua equipe?

Ao menos, tentemos ser melhores.

Para finalizar: Eu só abordei um punhado de vieses, existem pelo menos mais algumas dezenas deles que podem estar impactando o seu dia-a-dia de uma forma prejudicial e você nem se dá conta deles. Sugiro esse livro aqui para quem quiser uma outra opinião.

Obrigado por ter me lido até aqui.

Até!

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