Tecnologia para não tecnologistas — parte 4
Olá!
Se você chegou agora e quer entender melhor do que se trata essa série, comece por: fundamentos, engenharia vs arquitetura e sinais digitais.
Com isso dito, que tal descobrir porque a computação ficou tão barata e qual foi um dos principais fenômenos que ocorreram para permitir que surgissem startups que utilizam dessa computação barata para desbancar empresas centenárias e roubar o mercado em questão de meses?
O texto de hoje vamos falar sobre computação em nuvem e o porque não tem nada a ver com o clima ou se vai chover.
Mas antes um pouco de contexto.
Antigamente (pré advento dos provedores de nuvem) — nos tempos das cavernas do gerenciamento de infraestrutura, digamos assim — as empresas compravam servidores físicos, podendo ter ou alugar um data center, além de arcar com os custos de manutenção do espaço físico, depreciação das máquinas, custo dos profissionais que trabalhavam no local e até mesmo, com o custo do ar-condicionado.
Aqui vale uma curiosidade: servidores esquentam o ambiente (e muito). Devido a isso, caso o local não seja refrigerado de alguma forma, a vida útil dos componentes eletrônicos decaem de forma considerável.
É por causa desse tipo de custo que você consegue encontrar empresas como a Microsoft hospedando containers (físicos e digitais) no fundo do mar. Não acredita? dá uma olhada aqui. E o que é mais incrível: essa modalidade se mostrou mais barata, dado a melhora na resiliência dos componentes porque o ambiente/temperatura do data center estava controlado.
E quem disse que computadores e água não combinam mesmo?
Mas voltando aos data centers físicos.
Essa modalidade de hospedagem e gerenciamento de máquinas servidoras é chamada de modelo on-premise. Ela até que funciona, se você for uma empresa gigantesca ou uma empresa que presta serviços relacionados a servidores de alguma forma.
Porém, temos o seguinte problema: imagine um pico de acesso aos sistemas, do naipe 10x sua atual carga de processamento. Se você tem um espaço físico destinado a essas máquinas, não é como você tivesse como tirar 10x mais máquinas do nada, certo?
(Quer dizer, com cloud você até que pode, mas já chego lá).
O que as empresas faziam então? Simples: elas chutavam para cima. Ou, em termos mais bonitos… superdimensionavam.
Vamos a um exemplo prático: você é um varejista que atende 100 mil requisições por dia durante o ano inteiro, mas, na black friday você atende 1 milhão. Você — como empresa — teria que manter um data center 10x maior que sua carga comum em todo o restante do ano, apenas para que seus sistemas não caiam no dia mais importante do ano em se tratando de vendas.
Spoiler: mesmo com essas preocupações e gastos absurdos, eles podem cair em eventos similares mesmo assim.
Você deve estar pensando: mas não tem um jeito melhor de lidar com isso não?
Agora que entra a Amazon na história. Como uma grande varejista, a empresa percebeu que era possível usar a capacidade ociosa dos seus data centers durante alguns períodos do ano e literalmente, alugar esse poder de processamento. Por volta de 2002, a subsidiária de nuvem (Amazon Web Services, comumente abreviada como AWS) foi criada. Em 2006, temos os primeiros produtos de nuvem para uso comercial, como o serviço de hospedagem S3 e o serviço de virtualização EC2. Pense no S3 como um disco rígido remoto e o EC2 como processamento remoto.
Após a ascensão da AWS, em 2010 surgiu o serviço de nuvem da Microsoft (Azure) e por volta de 2013, o Google Cloud Plataform (GCP) deu as caras.
Em linhas gerais, em termos de market share, temos (dados de 2020):
A cloud nada mais é do que isso: computação (seja processador, memória ou disco) oferecido como um serviço, na modalidade de pague pelo tempo de uso. Ou seja, a máquina existe em algum data center, mas, literalmente, toda a dor de cabeça de manutenção não é problema seu.
Na prática, o provedor de serviços fornece um conjunto de ferramentas de gerenciamento desses recursos computacionais através de um software e você consegue usar esses recursos de forma elástica. Quando você não estiver mais utilizando, é possível desligar esses recursos. Caso precise de mais recursos, é possível tornar uma máquina mais potente (escala vertical) ou adicionar mais computadores para se realizar a tarefa (escala horizontal):
Ou seja, em termos de custo — visão cliente — , a situação fica assim:
Basicamente, o custo em cloud se resume a quase o tempo que você usou dos serviços + custos com treinamento e implementação. No on-premise, você arca com tudo: de hardware a manutenção passando por licenças de software e custo com equipe.
Para finalizar, acredito que valha mencionar a diferença entre os principais modelos de serviço oferecidos no mercado:
IaaS: Infrastructure as a Service. É um modelo no qual o serviço da nuvem cuida de todas as funcionalidades relacionadas ao hardware, como servidores, disco e rede. Atualmente todos os providers fornecem esse tipo de serviço. É considerado o modelo mais básico de funcionamento na nuvem. Aqui, você contrata computação pura, na forma de processador, memória, disco ou rede (ex: O serviço S3 da AWS, no qual você paga por GB armazenado).
PaaS: Platform as a service. O modelo que fornece além dos serviços relacionados ao hardware, também fornece uma camada adicional de sistemas básicos para uso. Aqui, você contrata um sistema para rodar alguma coisa em cima, na forma de servidores (ex: contratação de 5 servidores virtuais com a distribuição Ubuntu instalada).
SaaS: Software as a service. Nesse modelo é fornecido o sistema inteiro como um serviço, de forma que toda a preocupação com backup, redes, armazenamento, atualização dos sistemas e todas as demais necessidades de manutenção é de responsabilidade de quem te fornece o software. Aqui, você contrata o resultado esperado do sistema, na forma de serviço (ex: assinar o Adobe Photoshop por 240 dólares/ano te permite obter uma licença de uso do software).
Comparativamente, temos:
Com todo esse contexto, espero que tenha ficado claro porque a sua empresa tem como concorrente uma empresa que tem uma fração do time da sua e mesmo assim, consegue competir em se tratando de custos com desenvolvimento e infraestrutura de igual para igual (ou até melhor) com a sua.
Até!
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