Sobre Rap, Deuses Hindus e Líderes

Adriano Croco
5 min readOct 5, 2020

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Olá!

Um sentimento que me vem a mente com muita frequência ao interagir com o “mundo” através das bolhas montadas pelas big techs nos nossos feeds é desesperança.

Ao olhar ao redor, só tem problema e desgraça acontecendo. Seja ao olhar o LinkedIn e enxergar pessoas abertamente praguejando preconceitos escancarados na hora de contratar ou olhar o Twitter e ver a mais nova treta dentro da comunidade de TI.

Não vou nem levar em consideração a situação atual do Brasil porque o intuito desse post é fazer uma reflexão sobre a necessidade de mudança em um ponto bem específico: como escolhemos nossos líderes.

O ser humano tem um dom impressionante de colocar pessoas inadequadas em pedestais e depois reclamar que as coisas estão dando errado.

Meu apelo aqui é por racionalidade. Não adianta você achar que o mundo é fácil ou compreensível, porque ele não é. Porém, não usar racionalidade para lidar com ele é um convite a cair em armadilhas de pessoas que usam a emoção para te manipular.

Para todo problema complexo, existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada (H. L. Mencken).

Porque você acha que o mundo inteiro estaria tentando te enganar e te fazendo acreditar que a Terra não é plana? Somente você sabe da verdade e todo mundo ao redor são seres manipulados? Spoiler: você não é especial e caiu no algoritmo do YouTube que te trata como (spoiler denovo): mais um qualquer.

A maioria dos problemas que eu vejo hoje tem como causa essa insistência do ser humano de se achar uma pequeno ser iluminado no qual suas opiniões importam perante o universo (sim, elas não importam, e sim, nem as minhas importam, se você está se perguntando). Além de querer acreditar em algo que não é verdade porque só é mais cômodo:

Afinal, como pode ser fake news se corrobora com tudo que penso?

Por fim, um desprendimento imenso de energia gasto no “não mudar”, negando a realidade e querendo que as coisas continuem do jeito que elas acham que o mundo sempre foi e sempre será, em uma atitude conformista que só pode culminar em deixar o mundo do que jeito que tá: escroto e desigual.

O mundo pode ser caótico, mas depende de nós tentar fazer com que ele não seja tão ruim, ou, menos pior, pelo menos. Mas, ainda há esperança.

Aqui, o célebre Emicida já deu a letra na música a cada vento: “Cê quer saber o sentido da vida? pra frente.

Não importa o que você queira, não importa o que você ache, não importa que você não gosta, a humanidade vai continuar seguindo em frente sem se importar com quem você é, inclusive, não importa o quanto de dinheiro, títulos ou o cargo você tenha.

E porque eu digo isso?

Eu acredito que estamos vivendo um momento confuso na história da nossa espécie que se resume a uma crise de líderes e uma luta contra algumas verdades tidas como inquestionáveis até pouco tempo, como machismo e supremacia racial, ainda bem.

Leandro Karnal costuma dizer que o maior sinal de burrice é o preconceito. Eu poderia concordar com ele, compartilhar o vídeo que ele diz isso e me sentir “certo” ao atacar os preconceituosos. Porém, isso não é o suficiente para mudar nada, certo?

O que é necessário é que novos líderes surjam. Mas líderes de fato, não o mesmo perfil “meritocrático” que larga 900m na frente de uma pessoa comum em uma corrida de 1km e acha que mereceu ganhar.

No Brasil, quem nasce pobre morre pobre, estatisticamente falando só deixa de ser pobre NOVE GERAÇÔES depois. Quem nasce rico, morre rico, não importa o quanto incompetente seja. Não sou eu que estou dizendo, tem estudos que comprovam isso.

A nova liderança que o mundo precisa tem uma coisa em comum: elas não pertencem ao padrão. É a empreendedora que faz a diferença abrindo espaço para que pessoas negras ocupem espaços de poder nas empresas. É o homem gay que disputa espaços de poder no estado brasileiro com a tríplice homem-branco-rico (que infelizmente traz o abusivo e machista junto a esse conjunto de características de brinde, algumas vezes). É o motoboy da periferia que luta por melhores condições de trabalho da sua classe porque mesmo trabalhando, ele não ganha o suficiente para viver com dignidade.

Quem são as pessoas corajosas em tempos de turbulência? Essas são as pessoas que estão de fato tentando mudar algo no mundo. São elas que merecem nossa atenção e suporte.

Não se mede coragem em tempo de paz.

Para finalizar, eu gostaria de passar pelo seguinte trecho da música eminência parda (novamente, do Emicida):

Então supera a tara velha nessa caravela
Sério, para, fella, escancara tela em perspectiva
Eu subo, quebro tudo e eles chama de conceito
Eu penso que de algum jeito trago a mão de Shiva
Isso é Deus falando através dos mano
Sou eu mirando e matando a Klu
Só quem driblou a morte pela Norte saca
Que nunca foi sorte, sempre foi Exu

Esse trecho me arrepia absolutamente todas as vezes que eu ouço.

Se você não entendeu nada, aqui meu interesse em religião comparada vem a calhar. Perdoe-me se você é hinduísta e de alguma forma eu soar simplista na explicação:

Aquilo que Brahma constrói, Vishnu mantém e Shiva destrói.

Porém, o simbolismo dessa trindade hindu (ao meu ver) é simples: a vida. Tudo nasce, cresce e morre.

Aquilo que se recusa a morrer está indo contra a ordem natural das coisas.

O preconceito, o machismo, homofobia, o desconforto ao ver pessoas negras atingindo o sucesso profissional e saindo da posição subalterna herdada da percepção gerada pela escravidão. Tudo isso, já passou da hora de morrer para que o novo possa nascer.

O que isso tudo tem a ver com liderança?

Ao meu ver, tudo. Se você quer seguir alguém, empodere quem quer ver você crescer e que corrija injustiças. Não quem quer manter tudo do jeito que tá, “porque assim está bom”… Está bom para quem mesmo?

Uma coisa que eu aprendi em posições de liderança na minha carreira, foi que: é possível sim mudar as coisas, é possível sim corrigir injustiças, é possível sim não ser abusivo e bater metas ao mesmo tempo.

Liderar é bater metas, com o time, fazendo a coisa certa (Vicente Falconi).

Isso não se aplica somente ao mundo corporativo, se aplica em qualquer liderança, em qualquer escala. Nenhuma gestão é grande demais para que não se possa fazer a coisa certa. Quem não muda nada estando em uma posição de liderança é porque não quer. Sério, é simples assim.

Por favor, vamos escolher líderes melhores a partir de agora.

Basta.

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