Para entender melhor empresas brasileiras

Adriano Croco
5 min readMar 25, 2024

Olá!

No texto de hoje eu gostaria de explorar o modelo de dimensões culturais de Geert Hofstede e porque enxergar as relações de trabalho por essa perspectiva pode nos ajudar a entender melhor nossas próprias dinâmicas de interação.

Primeiro de tudo

O motivo de eu ter escrito esse texto é simples: estou cansado de ouvir coisas como “isso só acontece no Brasil” em absolutamente tudo que acontece de ruim por aqui no meio corporativo.

Em primeiro lugar, não é só aqui que acontece coisas ruins em empresas. Uma ação que abriu muito a minha mente nesse sentido foi olhar para outros lugares para ao menos, conseguir comparar com uma visão além da minha própria.

Felizmente, alguém já fez isso. O cientista social em questão se chama Geert Hofstede. Ele criou um modelo de dimensões culturais que visa explicar (com base em estatística) algumas diferenças culturais entre países.

Afinal, como eu sei se uma empresa brasileira tem uma abordagem mais “deixa a vida me levar” ou tenta controlar mais o futuro? Bom, para começar, vamos nos comparar com outras nações.

O modelo em si

Só um detalhe sobre o modelo: ele avaliação uma nação e não necessariamente um país. Dado que esse conceito é mais amplo, pois leva em consideração características de identidade e similares. Além disso, podem existir múltiplas nações dentro de um mesmo país (ex: Catalunha, Curdistão, etc).

Dito isso, vamos as dimensões do modelo. São 6 dimensões, no qual cada uma é um espectro entre dois critérios opostos.

Resumo do modelo e critérios utilizados

Distância do Poder (Power Distance): esta dimensão reflete até que ponto os membros menos poderosos de uma sociedade aceitam e esperam que o poder seja distribuído de forma desigual. Portanto, o espectro se baseia em: na alta distância do poder, há uma maior aceitação da autoridade hierárquica, enquanto em culturas com baixa distância do poder, há uma tendência para o igualitarismo e uma estrutura organizacional mais plana.

Individualismo (Individualism): o individualismo diz respeito a sociedades em que os laços entre os indivíduos são frouxos e espera-se que todos apenas cuidem de si mesmos e de sua família imediata. O coletivismo, por outro lado, refere-se a sociedades em que as pessoas, desde o nascimento, são integradas em grupos coesos fortes, muitas vezes famílias extensas, que continuam a protegê-las em troca de lealdade inquestionável.

Motivação para conquista e sucesso (Motivation towards Achievement and Success): também chamado de masculinidade vs feminilidade em algumas versões mais antigas do modelo. O espectro se divide em culturas que enfatizam a assertividade, a competição e o sucesso material (ou seja, mais decisivas), enquanto o outro lado refere-se a culturas que enfatizam os relacionamentos, a modéstia, o cuidado com os outros e a qualidade de vida (portanto, orientada a consenso). No primeiro caso, geralmente há uma lacuna de gênero (machismo) maior, enquanto no segundo, a lacuna é menor.

Aversão à Incerteza (Uncertainty Avoidance): esta dimensão descreve até que ponto os membros de uma cultura se sentem ameaçados por situações ambíguas ou desconhecidas e criaram crenças e instituições que tentam evitá-las. Culturas com alta aversão à incerteza tendem a ter regras e normas rígidas, enquanto culturas com baixa aversão à incerteza são mais tolerantes à ambiguidade e diversidade.

Orientação de Longo Prazo (Long Term Orientation): nesse caso, distingue entre sociedades que priorizam recompensas futuras e planejamento (orientação de longo prazo) e aquelas que se concentram mais na gratificação imediata e em normas sociais passadas ou presentes (curto prazo).

Indulgência (Indulgence): reflete até que ponto uma sociedade permite a gratificação relativamente livre de impulsos humanos básicos e naturais relacionados à diversão e ao prazer versus regulá-la por normas sociais rígidas.

Antes de ver o gráfico, reflita sobre essas dimensões e tente responder como é o Brasil, na sua percepção.

O Brasil comparado a outros países

Eu comparei o Brasil com outras 3 nações, que é o máximo que o modelo permite. No link fornecido você consegue comparar outras nações se quiser.

Levei em consideração nações que tem muita influência na nossa cultura e que conseguimos perceber a forma de agir das pessoas desses lugares no dia-a-dia.

As nações são: Japão (o Brasil abriga a maior população de origem japonesa fora da ilha), Portugal (por causa da colonização) e Estados Unidos (por causa do soft power que exerce na América Latina).

Os resultados foram:

Comparativo das 4 nações, usando o modelo de Hofstede

Perceba que existem alguns critérios que de fato percebemos facilmente ao interagir com essas culturas: japoneses são obviamente mais orientados a longo prazo do que os brasileiros. Ao mesmo tempo, o americano médio é mais indulgente que o brasileiro médio (vide comportamentos como Spring Break e os hábitos alimentares dos americanos).

Ao mesmo tempo, nossa distância do poder é alta, o que indica que o brasileiro médio tende a não questionar figuras de poder (como chefes e… políticos). E pasme: conseguimos abaixar mais a cabeça para a incompetência de gestores do que um japonês, que é uma cultura hiper-hierárquica de uma maneira geral, vide honoríficos que ilustram essa hierarquia como Senpai, San, Sama e Dono que você já deve ter ouvido em algum anime por aí.

Um critério que achei curioso é que por esse modelo, o brasileiro não é individualista. Pelo contrário. A definição usada é considerando os lações entre os indíviduos de um mesmo grupo. Ou seja, preterimos pessoas da mesma família ao longo da vida em diversos assuntos. Ou seja, nepotismo é mais comum aqui do que em outros lugares. Ao mesmo tempo, comparando com os EUA, o brasileiro médio não sai de casa para fazer faculdade do outro lado do país, por exemplo. Não estou levando questões econômicas em consideração aqui, ok?

Por fim, perceba que Portugual é um país com uma questão de aversão a incerteza muito forte. Isso explica porque o país é resistente com estrangeiros e mudanças culturais, por exemplo.

Tá, mas o que você faz com isso?

Bom, ter esse padrão de comparação me ajudou a entender que não existe cultura errada, como muitas vezes a gente sendo brasileiro propaga maldições contra nosso próprio país, devido a quantidade de problemas que enfrentamos como nação.

Além disso, caso você tenha um(a) gestor(a) de outra nacionalidade ou esteja em equipes internacionais, entender essas questões culturais pode te ajudar no dia-a-dia.

No fim, somos apenas mais um agrupamento de humanos tentando viver de uma forma diferente de um outro grupo de humanos. Só isso.

Portanto, um pouco de perspectiva não faz mal para ninguém, não é mesmo?

Espero que esse texto tenha sido útil para você de alguma forma.

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