Como ser uma pessoa desenvolvedora ética?

Adriano Croco
4 min readAug 12, 2020

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Certo dia, estava acompanhando algumas discussões relacionados a tecnologia no Twitter e um dos comentaristas envolvidos mencionou que alguns problemas na área de desenvolvimento acontecem pela falta de uma disciplina de ética na formação de pessoas desenvolvedoras.

Isso me fez pensar se isso era mesmo verdade e se eu tivesse estudado sobre ética na universidade qual o impacto que esse conhecimento teria na minha carreira.

E sabe a qual conclusão eu cheguei?

Que eu não tinha menor ideia do que é ética. Ai eu fui estudar (pra variar).

Pelas minhas pesquisas, eu descobri que a ética é uma parte da filosofia (isso foi legal saber) e que tem várias ramificações e diferentes abordagens. Nesse ponto tranquilo, afinal, toda pessoa desenvolvedora está acostumada a questões como: tema branco ou dark na IDE? VSCode ou Sublime? E infindáveis questões similares. Pela minha percepção, existe FlaFlu em toda e qualquer área do conhecimento humano. Até aí, nenhuma novidade.

Após um tempo de pesquisa e estudo encontrei alguns tópicos. Vamos começar com a Metaética, que estuda a natureza das propriedades, afirmações, julgamentos e atitudes éticas. Achei abrangente/acadêmico demais e fui para o próximo tópico.

A próxima que eu encontrei foi a Teoria do comando divino… Será que tem algo a ver com alguns desenvolvedores achando que são Deuses? Não, é algo completamente diferente, ainda bem.

E então eu encontrei a Teoria da lei natural: a lei que afirma que humanos possuem certas leis inatas predestinadas para eles, que deixam-os determinar o que é certo e o que é errado. Foi proposta por Tomas de Aquino e tinha bastante viés religioso. Ainda sim, não era bem o que eu estava procurando.

E então eu cheguei em Kant e seu imperativo categórico, a primeira abordagem que não leva em consideração o divino para definidor do que é certo e errado e leva em consideração a razão como fonte primordial na tomada de decisões.

Desse imperativo, derivam três fórmulas: a lei universal, o fim em si mesmo e fórmula da autonomia.

Mas será que essas ideias se aplicam á ética no desenvolvimento? Vamos analisar cada uma delas com mais calma para descobrir.

A lei universal diz que:

“Aja como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal.”

Basicamente diz que todas as ações que servem para você, dever ser universais e se aplicarem a todo mundo. Na prática, eu entendo isso como: as regras servem para todos, sem exceções.

Ou seja, frases como: “para que testar? fui eu que fiz, eu garanto!”, “deixa eu fazer essa gambiarra aqui para entregar mais rápido” e “faz qualquer coisa aí só para seguir em frente”, que você profere caso você ache que as regras alinhadas com o time não servem para você “porque você sabe o que está fazendo”, são ações antiéticas.

Afinal das contas, as regras deveriam se aplicar a todos, não é mesmo?

Vamos agora analisar a segunda fórmula:

“Aja de tal forma que uses a humanidade, tanto na tua pessoa, como na pessoa de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo como fim e nunca simplesmente como meio.”

Ou seja: trate seu usuário (um ser humano), como um humano e não somente como um meio para um fim. Ou, em cool software industry jargon: não engane seu usuário.

Logo de cara, eu consigo pensar em dois casos que ferem essa lei: Cambridge Analytica e suas manipulações com o usuários do Facebook e o conceito de dark patterns, que são todo um conjunto de práticas que tentam te enganar e/ou te deixar confuso. Esse tipo de prática é tão comum que tem até um catalogo delas aqui se você quiser se aprofundar.

Por fim, a fórmula da autonomia:

“Aja de tal maneira que tua vontade possa encarar a si mesma, ao mesmo tempo, como um legislador universal através de suas máximas.”

Ou seja, faça o que você fala e sirva de exemplo. Se você fala sobre testes, faça testes. Se você fala sobre diversidade, de espaço de verdade para grupos sub-representados na TI. Se você fala que a sua empresa é inovadora, forneça segurança psicólogica para as pessoas conseguirem errar e inovar sem medo de serem punidas. E obviamente, não puna quem cometeu um engano de forma honesta.

Incrível como podemos obter alguns insights para problemas da TI com ideias com mais de 200 anos no campo das soft skills ou com hard skills descobertas na década de 70~80 (ou vocês acham que ideias como sagas, CQRS e web assembly são coisas novas?)

P.S: Eu sei que web assembly é novo, mas o conceito de compilação para um binário que roda em uma máquina virtual não é.

Assim como Newton só enxergou mais longe porque estava sentado sobre os ombros de gigantes, porque nós da área de TI não podemos fazer o mesmo e olhar para o passado também em busca de respostas?

Até a próxima!

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