Como o nível de maturidade do negócio impacta na cultura da empresa?
Olá!
Refletindo sobre erros e acertos passados, tive a ideia desse post. Vou tentar passar por algumas classificações de estágio de maturidade das empresas e porque você deveria considerar isso antes de escolher um local para se trabalhar.
Vamos lá?
Vamos começar com a seguinte imagem:
A imagem é uma representação gráfica de uma percepção que eu já tive ao trabalhar em várias tipos de empresas diferentes: cada estágio de maturidade do negócio gera uma cultura específica.
E é essa ideia que eu gostaria de explorar hoje. Começando pelo estágio mais básico do negócio — quando ele nem é um negócio ainda: Startups em early stages.
Geralmente, startups começam com uma ideia, pouco dinheiro (na forma de angel investors) e com seu founding team. Nesse cenário, o perfil necessário é aquele que basicamente é um empreendedor (não importa qual área seja), pois terá que montar o time, processos e afins, tudo do zero, enquanto lida com o risco da startup falir ou a ideia não dar certo. Ou seja, é necessário alta resiliência e vontade de fazer algo novo. Não é recomendado se você procura estabilidade ou segurança financeira, pois será um ambiente muito incerto. E se tratando de tecnologia (que eu posso falar com mais facilidade), o CTO do founding team terá que codificar todo o sistema inicial, pensar em infraestrutura e tomar todas as decisões de tecnologia (como linguagem de programação, provider de cloud e demais decisões de arquitetura). Mas, qual é o problema aqui?
Se você procura previsibilidade, você será muito infeliz nessa posição. A pessoa mais indicada aqui é alguém que tenha espirito desbravador. Além disso, há outro risco que eu vejo acontecer bastante: pessoas com pouca experiência como gestor (ou até mesmo técnica) se enveredando por esse caminho, por glória. Fazendo um exercício de futurologia aqui: se você não tem muita experiência, como você vai saber a hora de delegar e focar somente na gestão? Como você vai lidar com os conflitos inerentes à gestão de pessoas? Como você pode ter certeza que está tomando uma decisão técnica baseada em critérios sólidos e não somente no hype? Por mais talentoso que você seja, existe uma certa curva de aprendizado que todo gestor passa. Esse processo não pode ser ignorado.
Acredito que seja esse o principal motivo que muitas pessoas reclamam das políticas e ações de gestão de pessoas em empresas nesse nível de maturidade: afinal, nem mesmo os líderes estão prontos. Portanto, a minha recomendação é: antes de tentar fundar uma empresa, ganhe experiência primeiro. Do que adianta pular etapas e fazer um péssimo trabalho devido a falta de experiência e preparo?
Não estou dizendo que jovens talentos não podem aprender e se desenvolverem junto com a empresa, mas eu acho improvável por um motivo muito simples: empresas crescem mais rápido que seus líderes conseguem acompanhar, infelizmente. Portanto, acho que não é possível uma única pessoa percorrer o caminho completo de maturidade de uma empresa em um período curto de crescimento acelerado de uma startup (que leva, digamos 5 anos). Ou, colocando em outra perspectiva: você acha realmente possível uma pessoa em 5 anos sair da pessoa "startupeira" de garagem e virar a pessoa executiva mais madura e hábil em gerir pessoas e tecnologia? Possível, porém raríssimo de se acontecer.
No MVP, após a validação inicial do produto e o começo de entrada de clientes, mesmo assim o futuro da empresa ainda está incerto. Aqui, o perfil é bastante parecido com o anterior: é necessário muita resiliência para tolerar a incerteza e continuar trabalhando e destravando valor de diversas formas, sem ter um job description bem definido e sem saber se o produto vai vingar. Porém, tem algumas diferenças: já existe um backlog — mesmo que mínimo — o que já é algo no qual se basear para construir novas features (novamente, estou falando com cabeça de pessoa desenvolvedora). Em alguns casos, é mais simples expandir um sistema do que pensar arquitetura e demais detalhes do zero.
E é justamente por isso que cabe minha recomendação aqui: se você quer o mínimo de direção já definida e o mínimo de validação financeira do produto, pode ser uma boa opção. Porém, não espere processos definidos, para nada. Seu processo seletivo pode ser confuso, a gestão de pessoas e operações de RH pode ser bastante amadora, salários podem atrasar simplesmente porque alguém de operações faltou, ferramentas que são contratadas via cartão de crédito corporativo podem parar de funcionar e ficar fora do ar porque alguém esqueceu de atualizar o cartão no serviço contratado (já vi acontecer), além de não existir feedbacks e acompanhamento de carreira mais próximo por parte do gestor direto (se é que há um) e uma outra infinidade de problemas de empresas muito jovens.
Porém, onde há incerteza, há grandes oportunidades. Existe a possibilidade de você ser um intra-empreendedor e conseguir criar processos e práticas realmente relevantes se você tiver habilidade para tal (já vi acontecer também).
Growth, é nesta fase que geralmente entra o grosso do dinheiro dos investidores — que, por sua vez, será usado para pagar a experiência de pessoas de mercado e expansão do time e do negócio. É aqui que ocorre um choque de cultura considerável entre o pessoal da cultura mais próximas aos founders e o pessoal de mercado (que, muitas vezes, vem de empresas do mesmo ramo, porém, maiores e mais consolidadas). Vamos a alguns exemplos: no caso de empresas que se proclamam alguma coisa + tech (como fintechs, foodtechs, healthtechs e afins), é nessa fase de maturidade que a empresa contrata pessoas de bancos, indústria alimentícia ou farmacêuticas,— respectivamente — que trazem práticas maduras — e lentas — comparadas as práticas da startup. Sabe o que é irônico aqui? Muitas vezes, o negócio da startup vem justamente para disruptar o negócio da empresa consolidada do mesmo ramo, porém, não consegue destruir a empresa da velha economia sem a ajuda de alguém que veio da velha economia. Enfim, coisas da comédia corporativa. E talvez porque você não deveria ter medo de startups, bastando que se adapte a elas que ficará tudo bem.
Aqui é um estágio de maturidade para quem quer fazer algo diferente dentro de um ramo que já conhece e quer experimentar, saindo um pouco da experiência padrão de se trabalhar em alguma multinacional da velha economia. Meu conselho é: aproveite essa fase, pois quando ela acaba, a empresa se torna igual a da velha economia que foi destruída pelo novo modelo de negócios.
E por fim, temos o estágio de maturity, no qual só há dois futuros possíveis: reinvenção ou declínio, pois não existe "estabilidade" no mundo de hoje, apenas uma frenesi que busca crescimento eterno, senão a empresa começa a sofrer pressões por lucros crescentes advindos dos acionistas. Ou seja, capitalismo.
Nesse estágio, a empresa não precisa realmente de você. É só pensar: se a empresa possui 14 mil funcionários ou 90 mil, que diferença você consegue fazer? Ouso dizer que nem mesmo um executivo consegue mudar muita coisa em empresas assim, se mantendo em uma posição de "tocar o bumbo" ao invés de propor grandes mudanças, portanto, se você procura uma espécie de trabalho sem muito desafio e uma certa estabilidade, é o lugar adequado para você. Porém, saiba que aderência à cultura pré-estabelecida é um pré-requisito, pois, novamente: não será você que irá mudar algo.
Aqui cabe a seguinte metáfora: empresas são organismos vivos, pessoas muito diferentes da cultura dominante são expelidas e combatidas, como se fossem uma ameaça ao organismo. Ou seja, se você é diferente, você é visto como um vírus a ser combatido e expelido. Aqui, a dica que eu dou é: tente entender qual é a cultura da empresa antes de entrar, ao invés de descobrir como ela é durante seu contrato de trabalho. Pode te poupar algumas demissões no currículo.
E para você? Espera que esse texto tenha trazido algumas reflexões.
Até!
Você gostou do conteúdo e gostaria de fazer mentoria comigo? Clique aqui e descubra como.