3 anedotas sobre soft skills
Olá!
Uma das coisas que me deixam triste no mundo é enxergar potencial desperdiçado. Seja uma pessoa com talento e aptidão mas não tem dinheiro para estudar. Ou profissionais que tem até uma boa condição financeira, mas ficam presos em trabalhos ruins por falta de um pouco de visão mais ampla sobre outras oportunidades possíveis no mercado em que atuam.
E qual não foi a minha surpresa ao descobrir que em tecnologia, o gap mais absurdamente evidente na maioria das pessoas desenvolvedoras está no comportamento delas e não no que elas tem de conhecimento técnico.
Enquanto escrevia esse post, encontrei uma lista sem-fim de “comportamentos esperados” que são popularmente conhecido como Soft Skills em alguns artigos de gestão. Mas, como todo artigo de gestão, ele é genérico… e em alguns casos, completamente desalinhado a realidade dos times de tecnologia.
Então, que tal falarmos dos comportamentos mais necessários que você precisa ter como pessoa desenvolvedora? Pela minha percepção, boa parte do material que temos hoje é genérico demais e não fala a língua do profissional digital. Com isso, espero que te ajude a destravar sua carreira de alguma forma e que te ajude a evitar potencial desperdiçado.
Let’s begin, shall we?
Vamos começar com a seguinte reflexão: você sabe — com 100% de certeza — qual é o seu papel como profissional de tecnologia dentro de uma organização?
Vai lá e pensa aí antes de continuar lendo.
Dica: você não faz parte do fim. Você faz parte do meio. Ou seja, do como fazer.
Não importa a empresa, tecnologia é e sempre será uma atividade auxiliar a algum negócio. Mesmo que você atue em um produto principal de uma empresa de tecnologia que vende software, mesmo assim, o fim em si do negócio é o produto (que problema resolve, qual a monetização, qual o cliente), a tecnologia é apenas o meio utilizado para se atingir tal fim.
Portanto, entenda que se você ajuda no como, como desempenhar esse papel de forma mais efetiva?
Vamos começar tratando o problema mais básico de todos: o profissional de tecnologia que não fala a língua do usuário/cliente. Seja você de uma squad de produto, freelancer ou trabalhe em uma consultoria, no final, todo mundo tem um chefe. O seu pode ser o Product Owner, mas, ainda sim, em produtos digitais, o foco é o cliente. Logo, seu chefe final é o seu cliente.
Com isso em mente, a pergunta que faço é: você está se comunicando com esse perfil falando a língua dele? Ou seja, você está se adaptando ao nível de conhecimento que a pessoa possui sobre tecnologia?
Para ficar menos abstrato, vamos a um exemplo real no qual presenciei:
Cliente: Fulano, você sabe dizer qual é a causa do problema no relatório de fornecedores?
Pessoa Desenvolvedora: Sei sim, vou te mandar.
(Alguns segundos se passam)
Pessoa Desenvolvedora: SELECT id, nome, cnpj, dt_cadastro, id_grupo, id_categoria from tb_fornecedores
where and id_grupo = 2 and id_categoria = 3
(Silêncio)
Encontre o erro.
Aqui cabe a primeira dica: adapte o discurso a quem você está falando. Nem todo mundo é tão técnico quanto você e entende SQL. Algumas vezes, por mais que a pessoa entenda, é irrelevante você mostrar isso para ela, porque não é isso que ela quer saber. Ou seja, regra número 1: o código vem por último, não primeiro. Tente entender o que a pessoa realmente quer saber e explique de acordo o nível de conhecimento dela. Porém, é muito fácil o profissional de tecnologia achar que por se tratar de um assunto técnico, a pessoa é de alguma forma incapaz de entender e acabar menosprezando o ouvinte de alguma forma. O que nos dá o gancho para o próximo problema.
A falta de empatia ao lidar com outras pessoas também é uma ausência muito comum em Tech. Novamente, vamos a mais uma anedota, dessa vez, dos meus tempos de faculdade:
Eu: Tudo bem Fulano? Qual o tema do seu TCC?
Colega 1: Tá muito legal, nós vamos falar sobre o tema X.
(Chega o parceiro de TCC desse meu colega, que eu não conhecia até o momento).
Colega 2: E ai pessoal, beleza?
(Colega 1 contextualiza o Colega 2 sobre a minha pergunta sobre o trabalho).
Colega 2: Ah, é sobre X, mas não vou entrar em detalhes porque você não vai entender.
Encontre o erro.
Se isso acontece até mesmo entre profissionais técnicos, imagine o que acontece no dia-a-dia, quando esse tipo de profissional for interagir com clientes, áreas parceiras ou pessoas desenvolvedoras com um nível de experiência menor?
Depois eu ouço perfis assim reclamando que não são promovidos. Que grande mistério, não é mesmo?
Por fim, temos que falar sobre a cultura das empresas.
Muitas vezes, vejo muitos developers subestimando a importância da cultura da empresa nas suas promoções (eu já cometi esse erro algumas vezes, inclusive), o que é algo que trava completamente sua evolução.
Cultura — resumindo algumas definições formais que já vi por aí — são os comportamentos das pessoas que são reforçados (ou tolerados) pela organização de alguma forma.
Novamente, vamos a mais uma história real que presenciei:
Junior 1 (Eu): Poxa, não entendo porque não cresço aqui. Eu faço meu trabalho técnico, sou referência na tecnologia X e nunca acontece nada.
Pleno: Você vende seu trabalho? Algum superintendente te conhece? Qual é o último projeto relevante que você gerenciou?
Junior 1 (Eu): Para quê isso? eu sou desenvolvedor, não gestor de projetos, meu conhecimento técnico e entregas deveria falar por si só.
Sênior: Aqui é meio assim viu? Tem que ter atuado em projetos relevantes e tudo mais, além de ter um perfil gestor de terceiros, não importa muito o tanto de conhecimento técnico que você tem, o que importa é entregar os projetos, não importando o como.
Junior 2: É meio errado isso aí, para crescer aqui tem que ser político?
Junior 1 (Eu): Concordo, que injusto isso, o profissional técnico deveria ser mais valorizado.
Dá um fast-forward.
Hoje, o Sênior é Especialista. O Pleno, é gerente na mesma organização. Os juniores? Bom, eles detectaram que aquela empresa não era para eles.
E qual é a principal lição aqui?
Você não muda cultura. Você se adapta a ela.
Mentira sua, Adriano. Eu já vi analista mudar a forma de se executar um processo. Ou já vi tal empresa mudar completamente a forma de trabalho com a chegada de um executivo novo (Você pode estar pensando).
Uma pessoa sozinha pode mudar um processo usando de conhecimento técnico, influência, comunicação e liderança sim. Mas será somente uma pequena parte do todo. Muitas vezes, quando essa pessoa saí, o estado da organização regride. Então, a reflexão que fica é: vale a pena gastar tanta energia assim em mudanças não permanentes?
A dica aqui é: se você escolher alguma batalha, escolha muito bem e prepare-se para ter muito jogo de cintura para travá-las. Não será na base do grito ou na base da arrogância técnica que as coisas irão mudar e sim, na base do seu jeito com pessoas.
O exemplo do executivo eu só vou dizer o seguinte: é para isso que ele é pago.
Portanto, a dica que fica é: quer entender bem qual é a cultura da empresa? Olhe ao seu redor e identifique quem foi promovido, quem foi demitido e os motivos. Ai estará sua resposta sobre que é reforçado ou tolerado.
Após enxergar isso, pergunte-se: você está disposto a fazer igual? senão estiver, não espere evolução nesse local.
O Sênior e o Pleno se adaptaram aquela cultura. Eu não quis e sai. Foi a melhor decisão que tomei. Minha carreira só progrediu quando eu escolhi lugares adequados ao meu jeito de ser.
E você? Tem empatia? Sabe falar a língua do cliente? Já sabe qual é a cultura que se adaptaria melhor?
Até.
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